Instinto materno e culpa: percepções de gestantes atendidas em maternidade brasileira

Abstract

RESUMO: Por séculos, os papéis sociais atribuídos à mulher foram o de esposa, dona de casa e mãe. Na Contemporaneidade, isso tem sido questionado, mas, ainda hoje, feminino e maternidade são vistas como experiências intimamente interligadas. No livro “Um amor conquistado: o mito do amor materno”, Badinter refuta a existência de um instinto materno que sustentaria um amor irrestrito das mães por seus filhos e demonstra como convite ao cuidado integral dos filhos passa a apresentar um tom de lei, tornando aquelas que não o cumprem alvos de culpa e julgamento moral. Esta pesquisa teve o objetivo de explorar a percepção de mulheres gestantes da atualidade sobre o instinto materno e o sentimento de culpa na experiência da maternidade. Foram realizadas dez entrevistas, cujos dados foram tratados através da Análise de Conteúdo de Minayo, à luz da psicanálise e de estudos dos campos da perinatalidade e parentalidade. A análise evidencia que, embora o instinto materno não seja percebido como inato e universal pela maioria das entrevistadas, persiste o julgamento moral daquelas que não cumprem o ideal da boa mãe. Elas também reconhecem a idealização da maternidade e a influência da alta expectativa e cobrança social em torno do desempenho delas como mães na vivência da culpa na maternidade. PALAVRAS-CHAVE: Maternidade, gravidez, comportamento instintivo, culpa.