Uso de contraceptivos e ocorrência de gestação em mulheres com doença falciforme: um estudo de corte transversal

Abstract

RESUMO Introdução: a Doença Falciforme (DF) é uma doença hematológica de origem genética que promove uma deformidade estrutural da hemoglobina (Hb) e gera a variante chamada de hemoglobina S (HbS), levando a diversas repercussões ao organismo. Mulheres com DF, ao engravidar, têm risco aumentado para complicações clínicas, obstétricas e perinatais. Diante disso, a contracepção para essas mulheres é de grande importância para um adequado planejamento da gestação. Objetivo: avaliar a prevalência do uso de métodos contraceptivos, a ocorrência de gestações e de complicações clínicas entre as mulheres com DF atendidas no Centro de Atenção à Mulher (CAM) do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira-IMIP que participaram de um estudo de coorte sobre adesão contraceptiva, dois anos após o seu término. Métodos: foi realizado um estudo de corte transversal, por meio de entrevista telefônica, no período de maio a setembro de 2022, com 35 mulheres que participaram da coorte sobre adesão contraceptiva para mulheres com DF no IMIP, há 2 anos. Foram coletadas variáveis sociodemográficas, relacionadas ao uso atual de contraceptivos, à ocorrência de gestação e à presença de complicações clínicas no período. Os dados foram analisados através do programa Stata 12.1 e apresentados de forma descritiva, pelas frequências absolutas e relativas das variáveis de interesse. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas do IMIP. Todas as mulheres aceitaram participar antes de entrar no estudo. Resultados: a média de idade das 35 entrevistadas foi 31,5 anos (DP: 4,8) e 88,6% declaram-se pretas ou pardas. O principal genótipo foi o HbSS (77,1%) e 22 (62,9%) estavam fazendo uso de algum método contraceptivo, sendo que 12 (54,5%) usavam progesterona isolada por diferentes formas de administração: DIU hormonal, injetável ou pílula. A média de tempo de uso dos métodos foi de 2,2 anos. As 13 (37,1%) entrevistadas que informaram não estar utilizando contraceptivos, justificaram: vida sexual inativa (14,3%), desejo de engravidar (8,6%) e gravidez atual (8,6%) como motivos para o não uso. No período avaliado, cinco (14,3%) mulheres engravidaram, e quatro destas referiram complicações clínicas ou obstétricas durante a gestação. Duas (5,7%) mulheres estavam utilizando um método contraceptivo quando engravidaram. Em relação aos sintomas clínicos relacionados à DF, 23 (65,7%) referiram cefaleia e 20 (57,1%) informaram crises álgicas. No último ano, 18 (51,4%) mulheres necessitaram de internamento pela DF e 19 (54,3%) de hemotransfusões. Conclusão: A maior parte das entrevistadas segue utilizando algum método contraceptivo, especialmente aqueles contendo progesterona isolada, dois anos após o término da coorte. Palavras-chave: Doença Falciforme; Doenças Hematológicas; Métodos contraceptivos; Saúde da Mulher; Qualidade da assistência à saúde.